Você não ouviu nada!: Black Sabbath

Este foi o primeiro disco que adquiri na antiga loja de rock de Caratinga/MG, a já extinta, "Binoca". Ouvi o disco e de primeira sabia que tinha de ser meu (só tinha um exemplar). Saí dalí com o álbum na mão e foi torturante aguardar 45 minutos de ônibus até chegar em casa em Santa Bárbara do Leste/MG e por para tocar. O disco se tornou para mim uma verdadeira relíquia, e na época tinha acabado de adquirir a revista Top Rock Especial 17 - Black Sabbath, e acabava de descobrir o som do Black Sabbath após a saída de Ozzy Osbourne, e o disco confirmava que a banda foi muito além da carreira iniciada com o cantor, pela sua qualidade. A revista e o disco fizeram tanto sucesso e foram tão impactantes em todos nós que gostávamos de rock, que todos gravaram suas fitas K7 com as canções deste disco, como também os amigos Clinger e Zé Antônio adquiriram um exemplar desta revista nas bandas.

O álbum foi produzido por Martin Birch, um dos profissionais mais requisitados na cena musical atuando ao lado de bandas como Fleetwood Mac, Deep Purple, Whitesnake, Rainbow e Blue Öyster Cult. Seu trabalho com o Black Sabbath começou em Heaven and Hell e o resultado foi tão positivo que a parceria foi mantida. O mesmo aconteceu com Geoff Nichols, que participou dos dois trabalhos como tecladista convidado.

Depois do sucesso de Heaven and Hell, em 1980, Black Sabbath provou que não apenas podia seguir em frente sem seu co-fundador Ozzy Osbourne, mas que podia ir adiante conquistando uma nova legião de fãs do heavy metal. Dio agregou muita qualidade e dinâmica nos vocais, passou a ajudar nas letras de Geezer, e com sua bagagem musical, trouxe suas influências e encorpou de certa forma o som da banda.

O momento não poderia ser melhor: Tony Iommi reuniu seu arsenal de riffs habitual e aparece com uma incrível técnica nos solos, como não se via na "era Osbourne". Pura evolução e maturidade de um músico consagrado que não parou no tempo.

"Turn up the Night" é a faixa de abertura que concentra todo o potencial dos músicos em uma investida explosiva. Uma autêntica muralha sonora formada pela associação da guitarra, baixo, bateria e vocal.

Na sequência "Voodoo" se mostrou uma grande música com outro riff memorável do mestre Iommi.

Uma grande surpresa é "The Sign of the Southern Cross". A singela abertura ao violão e o vocal de Dio, suave com trechos em falsete, logo cede lugar para um tema absolutamente sombrio. Iommi se encarrega da criação dos climas e os teclados de Nichols ajudam a compor um cenário de horror digno de um clássico da banda. A letra recorda uma profecia apocalíptica: "Há um arco-íris que vai brilhar quando o verão acabar/ Se um eco não responder a um som penetrante/ Então a besta estará livre para vagar/ É o sinal do Cruzeiro do Sul". Um marco na carreira da banda.

A vinheta "E5150" explora ao máximo os teclados a fim de gerar o clima de tensão. "The Mob Rules" é um clássico inesquecível, riffs de guitarra comandam a base da composição e o poder de ataque da bateria produz um "caos sob controle". Um hino do rock pesado composto por uma banda em estado absoluto de criatividade, que foi grvado no estúdio de ninguém menos que John Lennon. As canções "Country Girl" e "Slipping Away" tem como ponto forte o duelo sonoro entre Geezer e Iommi, que mostram com maestria a dinâmica entre a guitarra e o baixo.

A introdução de "Falling off the Edge of the World", tranquila e melancólica, é apenas um recurso para surpreender o ouvinte. Na seqüência uma música demolidora segue de perto o estilo heavy metal dos anos 80. Mas a guitarra não deixa esquecer: é puro Black Sabbath. Para terminar em um ritmo mais lento e cadenciado, "Over and Over" coloca mais uma vez a guitarra de Iommi como personagem central.

Além da extraordinária qualidade musical, este disco é uma história de superação e reestruturação da maior lenda do rock pesado. E não há dúvida que eles consequiram.