segunda-feira, 9 de abril de 2012

Engenheiros do Hawaii - Várias Variáveis (1991)


Este disco ficou incubido de suceder o campeão de vendas "O Papa é Pop" de 1990, que foi responsável por massificar a banda e a levou ao estrelado trazendo consigo todos os bônus e ônus que isso pode acarretar a um artista, grupo ou banda. E com os Engenheiros do Hawaii não foi diferente, mas ainda levaria algum tempo para que esta ruptura chegasse de forma brutal a banda. Na verdade visto do ponto de vista musical, este "Várias Variáveis" de 1991 se saiu muito bem, e até certo ponto, até mesmo para os padrões comerciais da época onde ainda prevaleciam a venda de LPs e Fitas K7s e os programas "Domingão do Faustão" na Rede Globo, e o "Programa Livre" do SBT eram os principais meios de divulgação, além das diversas rádios nacionais, regionais e locais (rádio comunitária) que existiam é claro.


Um fato interessante na época era que os Engenheiros do Hawaii eram a banda nacional predileta da grande maioria do meu grupo de amizades(para alguns chegavam a ser a melhor no rank geral). Por se tratar de um grupo nacional e de um grupo que estava em muita evidência, o acesso a este disco até que foi fácil. Conheci o álbum através do amigo e fã incondicional da banda, Cláudio de Caratinga/MG que foi músico convidado em diversos momentos, quando a banda Influence formada por mim (guitarra), Clinger (baixo), Zé Antônio (vocal), Moisés (teclado) e Ronald (bateria) estava formando seu embrião. Mais tarde os amigos Edson (hoje um dos gerentes da DPC em caratinga) e Elvio (que se tornou mais tarde meu cunhado casando-se com minha irmã Iris), adquiriram suas cópias e cansaram de me emprestar para ouvir até que tivesse o meu próprio exemplar.


Para entender como este disco foi fundamental para minha visão musical, é importante fazermos alguns paralelos com os acontecimentos da época e que eram observados entre nosso grupo de amigos e que o disco viria materializar na forma de músicas todos os nossos desapontamentos. Vale lembrar que nessa época tínhamos Fernando Collor de Mello na presidência, inflação, confisco de poupança pela ministra Zélia e o grande fato que em 18 janeiro iniciava-se a Guerra no Golfo. Referente a acontecimentos ligados à  música, tivemos em 19 de janeiro o início da segunda edição do Rock In Rio, que teria como atrações principais: A-Ha, Prince, Judas Priest, Guns And Roses, Joe Cocker, entre muitos outros e que na verdade nehum de nós teria condições nem financeiras ou mesmo estrutural para ir ao evento, nos sentíamos como náufragos. O único conforto eram nossos discos e os encontros de rock and roll patrocinados e produzidos por nós mesmos, que aconteciam praticamente toda semana sempre em um local diferente, além de pensar no trabalho que iríamos fazer como o Influence no futuro, que era completamente incerto.


O trabalho diferencial do disco já se iniciava com o encarte ao trazer a mensagem: "Este disco é dedicado ao homem só, seja ele quem for, esteja onde estiver", falem a verdade, era ou não era o retrado ideal da época, e serviu de forma direta para nos dar esperança. Outro fato interessante sobre a capa do disco, é o relógio do Mickey Mouse, que aparece também no início do vídeo "The Wall", do grupo Pink Floyd. A engrenagem na forma de cobra que morde o próprio rabo transmite a idéia (confirmada no disco) de que ao final tudo vai se repetir. Vale lembrar ainda o aparecimento do símbolo das Organizações das Nações Unidas, de ponta-cabeça além de várias outras simbologias encontradas nesta arte aparentemente simples e de interpretação e percepção complexa para muitos. O disco marca também o fim de uma trilogia artística para representar as cores da bandeira do estado do Rio Grande do Sul, inciciada pela banda no disco "A Revolta dos Dândis em 1987 (cor amarela)", passando por "Ouça o que eu Digo Não Ouça Ninguém em 1988 (cor vermelha)" e finalizando com este "Várias Variáveis de1991 (cor verde)".


No quesito sonoridade o disco se mostrou ser mais direto, abandonando a influência da música eletrônica que foi fortemente utiizada no trabalho anterior, proporcionando assim um disco com um som mais pesado apresentando grandes solos por parte de Augusto Licks como em "Sala Vip", "Piano Bar", "Sampa do Walkman", "Museu de Cera", "Ando Só" e "Muros e Grades".


Apesar de apresentar em seu som  arranjos elaborados na grande maioria das canções deste disco, as letras é que são o ponto forte mais uma vez. As letras são poéticas, verdadeiras e recheadas de alfinetadas a um mundo que se torna cada vez mais materialista e consumista. A canção "Ando Só" tem inspiração no conto Pergunte ao Pó, de John Fante. O nome do texto está na letra, no trecho "Pergunte ao pó / Desça ao porão / Siga aquele carro ou as pegadas que eu deixei / Pergunte ao pó por onde andei". Já a canção "O Sonho é Popular" traz o seguinte trecho (a pampa é pop / o país é pobre / é pobre a pampa / o PIB é pouco / o povo pena mas não pára...), já o trecho (Uma mentira repetida até virar verdade) é uma máxima do discurso fascista, que previa que "uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade".

Em "Muros e Grades" temos a grande realidade das cidades apresentada em sua letra angustiada que fala: (Nas grandes cidades / No pequeno dia a dia / O medo nos leva a tudo/ Sobretudo a fantasia / Então erguemos muros / Que nos dão a garantia / De que morremos cheios / De uma vida tão vazia / Nas grandes cidades / De um país tão violento / Os muros e as grades / Nos protegem de quase tudo / Mas o quase tudo / Quase sempre é quase nada / E nada nos protege / De uma vida sem sentido / Uma vida superficial / Entre cobras / Entre as sobras da nossa escassez, etc).


Para relatar e argumentar sobre a genealidade da poesia contída neste discaço eu poderia relatar inúmeros fragmentos de letras das canções, que com certeza aqui se fazem desnecessárias. O intúito foi apenas o de despertar e aguçar a curiosidade de quem chegou até este ponto do texto.


O que posso concluir é que o álbum continua atual, e é um daqueles discos para ser saboreado e não só ouvido. Como diz a música "Museu de Cera": (Quem quiser saber por quê ? / E não tiver o que perder / Não pode acreditar em tudo / Nem Duvidar de Nada / Têm que pagar para ver / Tem que ver para crêr / Quem viver verá / As caras destes caras / Em um museu de cera). Então o que você está esperando, ouça o disco entre de cabeça nesse som!

 


Engenheiros do Hawaii (1991)



 
Músicas:


1. O Sonho É Popular
2. Herdeiro Da Pampa Pobre
3. Sala Vip
4. Piano Bar
5. Ando Só
6. Quartos De Hotel
7. Várias Variáveis 
8. Sampa No Walkman
9. Muros E Grades
10. Museu De Cera
11. Curtametragem
12. Descendo A Serra
13. Não É Sempre
14. Nunca É Sempre















2 comentários:

  1. Mandou bem!!!
    Como diz você mesmo este discaço, traz uma musicalidade não encontrada nas bandas atuais!!! Teremos que pagar para ver e quem viver verá se em algum momento voltaremos a ter bandas nacionais como esta. Parabéns pelo trabalho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela força meu amigo, e em breve publicarei novos posts para esta que sem dúvida alguma é uma das maiores bandas de rock nacional de todos o tempos!

      Excluir