domingo, 8 de abril de 2012

Raul Seixas - O Dia Em Que A Terra Parou (1978)




O disco foi lançado em 1978 pela grande gravadora WEA, uma das maiores do Brasil na época. Contudo, e como era de se esperar em um momento que o regime militar vigorava no Brasil, associado a críticas diversas da mídia, proporcionaram um ruim desempenho de vendas, que ainda foi associado a má divulgação por parte da gravadora, resultando em um baixo público presente nos shows do cantor na época.


O álbum marca a parceria entre Cláudio Roberto e Raul Seixas. O disco entregou ao grande público pelo ao menos 03 grandes clássicos absolutos da carreira de Raul: "Maluco Beleza" (não seria estranho alguém dizer que para ele está é grande canção composta pelo cantor), a idealista "O Dia Em Que a Terra Parou" e a metafórica "Sapato 36".



Para aqueles que ouvem um álbum a exaustão e procuram garimpá-lo de forma minuciosa, ainda irão extrair com certeza as canções:"Eu quero mesmo", onde o cantor reflete sobre o indivíduo buscar se empenhar em mostrar ao mundo o que realmente é, e o que quer, não se escondendo atrás de máscaras. Também será destaque a bela canção "No Fundo Do Quintal Da Escola", que mostra em sua letra o quão uma pessoa corre o risco de ser criticada por não seguir ou se adaptar a uma visão criada uniliteralmente pela massa social, pelo simples fato de ser diferente, trazendo ainda em sua letra uma longa bagagem buscando encorajar a pessoa a ser diferente.


Hoje no Brasil posso citar pelo ao menos 06 artistas ligados ao rock & pop, que de certa forma se tornaram também verdadeiros poetas através das letras de suas composições. Seriam eles: Roberto Carlos, Raul Seixas, Cazuza, Renato Russo, Humberto Gessinger e Teddy Corrêa. Mas indiscutivelmente Raul Seixas foi o que atingiu maior profundidade e mais soube misturar os estilos musicais durante toda a sua carreira como músico.


Para fazer uma alusão a minha opinião sobre o parágrafo anterior irei aqui passar algumas considerações extraídas de algumas letras contidas nas canções produzidas em particular neste belo trabalho do cantor. Quero ainda ressaltar que quando ouvi este disco pela primeira vez, as canções pareciam como um bate-papo com um amigo de forma informal, já que essas letras contextualizavam de forma tão direta minha realidade entre o período de 1992 e 1999. As canções pareciam pequenos fragmentos de uma realidade onde eu e alguns poucos amigos vivíamos todo santo dia, e essa música de certa forma libertadora, era a melhor forma de se ausentar de uma realidade que não queríamos para nós.


Quando ouvi os primeiros fragmentos da letra de "Maluco Beleza" (Enquanto você se esforça pra ser / Um sujeito normal, e fazer tudo igual / Eu do meu lado, aprendendo a ser louco / Um maluco total, na loucura real), eu percebi juntamente com vários amigos que de alguma forma o tipo de som que estávamos ouvindo tinha um grande significado em conhecer a verdade, por exemplo, por trás da política, do dinheiro e por quê não, até mesmo sobre o conceito de estética. Prosseguindo, o fragmento (Controlando a minha maluquez / Misturada com minha lucidez), retratava ao mesmo tempo que a "lucidez" enxergada por nós (ou por você lendo este artigo ou ounvido a música), não nos dava ao mesmo tempo a idéia de que eramos melhores, superiores ou qualquer outro tipo de conotação neste sentido, e sim de que o despertar iria depender de cada indivíduo, e isso foi realçado no fragmento posterior (E este caminho que eu mesmo escolhi / É tão fácil seguir, por não ter onde ir), onde mostra claramente que estava falando para os que se sentiam excluídos de alguma forma.


Como forma de completar a explanação da música anterior a canção "No Fundo Do Quintal Da Escola", nos apresenta que a rebeldia na juventude pode representar até mesmo um conceito de ter opinião própria e não se importar pelo que os outros pensam sobre você. O trecho correspondente seria o seguinte: (Não sei onde eu tô indo / Mas sei que eu tô no meu caminho / Enquanto você me critica / Eu tô no meu caminho) e continua (Eu sou o que sou / Porque eu vivo da minha maneira / Só sei que eu sinto / Que foi sempre assim, minha vida inteira), a letra prossegue mostrando o papel sobre rebeldia e dando ênfase que gostar de futebol era um conceito obrigatório pela sociedade (Desde aquele tempo / Enquanto o resto da turma se juntava / Pra bater uma bola / Eu pulava o muro com Zezinho / No fundo do quintal da escola) a letra ainda reflete sobre que apesar do jovem buscar o entretenimento é necessário formar uma opinião de cidadão conciente no seguinte trecho (Você esperando resposta / Olhando pro espaço / E eu tão ocupado vivendo / Eu não me pergunto. Eu faço! / E se você quiser contar comigo / É melhor não me chamar / Pra jogar bola). Magnífica!


A metafórica "Sapato 36" é uma canção com uma bagagem incrivelmente forte, mostrando que o futuro só depende de seu total esforço, além de ressaltar que o apoio da família é mais que importante na trajetória da vida, contudo a família não deve impor nada e sim aconselhar e acompanhar. Outro lance interessante sobre a música é que muitos realmente acreditam até hoje que a música realmente está falando  de um sapato no sentido literal da palavra. Confira a letra e tire suas próprias conclusões: (Eu calço é 37 / Meu pai me dá 36 / Dói, mas no dia seguinte / Aperto meu pé outra vez / Pai eu já tô crescidinho / Pague prá ver, que eu aposto / Vou escolher meu sapato / E andar do jeito que eu gosto / Por que cargas d'água / Você acha que tem o direito / De afogar tudo aquilo que eu / Sinto em meu peito / Você só vai ter o respeito que quer / Na realidade / No dia em que você souber respeitar / A minha vontade / Meu pai / Pai já tô indo embora / Quero partir sem brigar / Pois eu já escolhi meu sapato / Que não vai mais me apertar).



Apesar da canção "O Dia Em Que a Terra Parou", faixa título do álbum, não ser melancólica, deprimida e nem mesmo baseada em piano, esta sim é a nossa canção "Imagine" de John Lennon. Aqui encontramos  os mesmos elementos questionáveis pela canção de Lennon, diferindo que aqui a letra é apresentada em um linguajar comum, chegando até mesmo apresentar um português corriqueiro e ainda sim para muitos até os dias atuais, não passa de apenas uma música "bonita" e com uma letra "maluca". A letra realmente busca expressar a necessidades de ter uma sociedade igualitária com vários conceitos "socialistas", como também de mostrar que se todos se unirem em prol da paz e de uma política igual para todos (realmente utopia pura) seria possível termos uma sociedade mais feliz. Confira a letra e viage (Essa noite eu tive um sonho de sonhador / Maluco que sou eu sonhei / Com o dia em que a terra parou / Foi assim no dia em que todas as pessoas do planeta inteiro / Resolveram que ningúem ia sair de casa / Como que se fosse combinado, em todo o planeta / Naquele dia ninguém saiu de casa, ninguém.../ O empregado não saiu pro seu trabalho / Sabia que o patrão também não tava lá / Dona de casa não saiu pra comprar pão / Pois sabia que o padeiro também não tava lá / E o guarda não saiu para prender / Pois sabia que o ladrão também não tava lá / E o ladrão não saiu para roubar / Pois sabia que não ia ter onde gastar / No dia em que a terra parou / E nas igrejas nenhum sino a badalar / Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá / E os fiéis não sairam pra rezar pois sabiam / Que o padre também não tava lá / E o aluno não saiu para estudar / Pois sabia (que) o professor também não tava lá / E o professor não saiu pra lecionar / Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar / No dia em que a terra parou / O comandante não saiu para o quartel  / Pois sabia que o soldado também não tava lá / E o soldado não saiu pra ir pra guerra / Pois sabia que o inimigo também não tava lá / E o paciente não saiu pra se tratar / Pois sabia que o doutor também não tava lá / E o doutor não saiu pra medicar / Pois sabia que não tinha mais doença pra curar / No dia em que a terra parou / Essa noite eu tive um sonho de sonhador / Maluco que sou acordei / No dia em que a terra parou).

Acredito eu que a inserção destes fragmentos de letra foram importantes para fazer a alusão da profundidade deste álbum, o que transformou esta postagem em um pouco longa sem ser desnecessária. Abaixo como em todos os outros posts do blog, incorporei alguns links para vídeos é audios destas canções no youtube, para que você possa ouvir de imediato. Mas caso se sinta tocado pelas mensagens deste grande artísta, será inevitável a aquisição desta obra pelo simples fato de que sua canções serem atemporais e continuam sendo escola para todos. Obrigado Raul!



 


Raul Seixas



Músicas:


1. Tapanacara
2. Maluco Beleza
3. O Dia Em Que a Terra Parou
4. No Fundo do Quintal da Escola
5. Eu Quero Mesmo
6. Sapato 36
7. Você
8. Sim
9. Que Luz é Essa
10. De Cabeca-Pra-Baixo
















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